Foto: https://palavrastodaspalavras.wordpress.com/
WALMOR MARCELINO
( 1930- 2009 )
Nascido em Araranguá (SC), em 1930, morou em Florianópolis, Porto Alegre e fixou residência em Curitiba. Escritor com forte atuação política, publicou mais de 30 livros, entre poesia, ficção e textos de opinião. (...)
Em Porto Alegre, em 1953, começou a participar do grupo Quixote, formado por alguns poetas que se reuniam em cafés e trocavam experiências e criações descompromissadamente. (...)
Em Curitiba, trabalhou nos jornais Gazeta do Povo e Última Hora. Depois do golpe de 1° de abril de 1964, foi para Florianópolis, mas não se sentindo seguro foi se esconder em um sítio. (...)
Na década de 70, participou do Centro Popular de Cultura em Curitiba e de grupos de teatro da UFPR, sempre em oposição à ditadura militar. Preso político, nunca se furtou da crítica ao governo militar e das suas posições políticas. (...)
Além de jornalista, poeta, e dramaturgo, Walmor Marcelino também era compositor. Junto com o músico Gerson Biantinez, compôs O Encontro de Walmor Marcellino com o Capitão Lamarca. A música, inédita, fala do encontro do jornalista com o guerrilheiro. (...)
lguns de seus livros são:
Janela para o mundo, é de 1964, Duelo de corte vivo (poesia), de 2003; Os idus de março e os ódios de abril (teatro) é de 1996; Verberação dos demônios (ensaio), de 2000; A cólera é uma loucura breve (narrativas), de 2001
Ver a biografia completa em: https://nuhtaradahab.wordpress.com/ /2010/02/16/walmor-marcellino-1930-2009/
BACK, Sylvio. Cinquenta anos. Díário do Paraná. Edição fac-similar. Capa : Guilherme Mansur. Reprodução fotográfica: Cadi Busatto. Coordenação gráfica: Rita de Cássia Solieri Brandt. Projeto gráfico: Adriana Salmazo Zavadniak. Curitiba, Paraná: Itaipu Binacional, 2011. S. p. Inclui 7 folhas dobradas 94 x 1,26 cm., com imagens de páginas do suplemento literários dos anos 1959 – 1960, acomodadas numa caixa de papelão 35x 48 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda.
mario carvalho
O Mário não termina nunca, o Mário de Carvalho;
o Mário é comprido como uma inquietação, instável.
Quem é o Mário? Não sei, eu o conheci um dia destes;
eu o vi e não conheço, sei dele que freme, esgota, convulsa.
Mário Carvalho é longo. Tem sua propriedade orgânicas
sua magreza inalienável, seu espírito levemente musical
entretanto os acordes não têm ali sua morada
é uma pausa que ele faz, descansa para depois.
Mário não é físico como uma sombra, uma rótula
ou um tornozelo no ar. Não. Ele é o espaço numa rua
entre duas casas, numa réstia de luz, passa o Mário;
e quem encontramos na madrugada insone
é quem contra o muro ou a parede
quando chove está resolvendo.
Certo a vestimenta clara poderá
conceder-lhe um matiz ensoleirado
porém não se esqueça, se marca
e sem querer se diz a ele;
certamente o sol inclinado
sobre sua cabeça poderá encobri-lo
mas perguntamos onde o Mário?
o Mário Carvalho que conhecemos?
Sabemos, assim, que o Mário não preenche um lugar
não se encontra assente sobre o chão, não se demora ali;
parece sozinho irremediavelmente.
À primeira vista julgamos um tormento
um não repentino ou um sábado de nuvens
depois descobrimos que está só, como
uma mariposas diurna, alguma formiga sem asas
um objeto fora de seu lugar
que onde está não é, mas não sabemos donde.
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Publicado no dia 5 de setembro de 1959
a música subterrânea
Perturbam-me os ruídos,
este resfolegar de um líquido
espesso, essa dimensão
desabrigada dentro de mim.
Sopram-me os ouvidos
um chamado tênue
e me acovardo com a solidão da noite.
Em seu noturno segredo e frio
às vezes me lampejo de amor
mas as entediada crisálidas
não inundam a primavera
e o vinho circunstancial que absorvo
sabe sal, entorpecimento.
Porém sobe e vigia, impõe
explode na minha cara
um sabor derrotado
como vulcão extingo e morto.
Sim, percebo, o rumor
não é só de meu sangue
penetra amplo
todas as janelas deste mundo.
O rumor e seu perfume
impávido e impossível.
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Publicado em 11 de outubro de 1959
Página publicada em fevereiro de 2021
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